Elizer João de Souza, Presidente da Associação Brasileira dos Exposto ao Amianto
Eliezer João de Souza nasceu no dia 12 de junho de 1941, no antigo município de Ramalhete hoje conhecido como Virgolândia, localizado na zona da mata de Minas Gerais. Em 2023 completou 82 anos de vida. Filho de família pobre, os pais eram trabalhadores da terra e teve 12 irmãos. Foi para escola pela primeira vez aos nove anos de idade, quando alternava o período escolar com a jornada de trabalho na roça, plantando frutas e legumes para alimentação da família.
Foi uma das primeiras crianças de sua cidade a se alfabetizar, frequentando uma escola organizada por um pequeno proprietário de terras da cidade vizinha. Era obrigado a caminhar longas distâncias diariamente para chegar na escola que estudou por três seguidos anos.
Em 1963, aos 22 anos, deixou sua terra natal junto com um irmão mais novo rumo à cidade de Governador Valadares. Buscavam trabalho após um duro tempo de seca que comprometeu as plantações da região. Durante três anos não conseguiu uma ocupação fixa no novo destino, passando um período de muita dificuldade e privações. Em 1965, convidado por um primo, vai para o Estado de São Paulo trabalhar na construção da futura rodovia Castelo Branco, morando na cidade de Tatuí. Em seguida conseguiu um trabalha regular por cerca de dois anos na pedreira da Andrade Gutierrez no município de Porangaba.
Eliezer reencontrou velhos conhecidos de Minas Gerais durante uma visita para Aparecida do Norte e ficou sabendo que havia muitos conhecidos de sua região morando na capital paulista, quando é convidado para trabalhar em São Paulo. No dia 3 de maio de 1968 começou a trabalhar na Fábrica da Eternit da cidade de Osasco, empresa em que permaneceu durante 13 anos.
No novo trabalho teve os primeiros contatos com os movimentos grevistas que tiveram grande força na época, quando Osasco foi uma das cidades de maior protagonismo do movimento operário brasileiro.
Durante quase todo o período que ficou empregado na Eternit trabalhou em condições insalubres e sem uso de equipamentos adequados, situação que impactou definitivamente sua qualidade de vida tendo repercussões severas na sua saúde ao longo dos anos, pelo contato permanente com o Amianto.
Durante os anos que trabalhou na Eternit, estreitou laços com a pastoral operária, com o processo de fundação do PT e ingressou no movimento sindical participando ativamente, inclusive de eleições sindicais. Residente de Itapevi, município da região metropolitana de São Paulo, onde reside até hoje, ajudou a construir o Partido dos Trabalhadores na cidade, sendo também o primeiro candidato a prefeito pelo então novo partido (1982). Na ocasião, os novos partidos eram uma recente novidade que fazia parte do processo de transição da ditadura militar, quando só era permitida a existência de dois partidos.
A presença de um trabalhador do chão da fábrica disputando uma eleição para o cargo de prefeito de uma cidade pobre da grande São Paulo representou uma substantiva mudança no panorama da política institucional brasileira e, sem dúvida, exemplos como esse contribuíram para fortalecer a nossa democracia. Entre os postulantes à prefeitura, ficou em terceiro lugar entre 12 candidatos.
Eliezer seguiu sua atuação social e política em Itapevi participando de associações de moradores e organizando demandas sociais. Em 1988, foi eleito vereador em Itapevi integrando a legislatura responsável pela elaboração da Lei Orgânica do Município, mandato que cumpriu até 1992.
Após o exercício do seu mandato de vereador Eliezer voltou para suas atividades regulares e seguiu trabalhando, dessa vez como pedreiro e fazendo serviços temporários para poder sustentar sua família já estabelecida em Itapevi. Em paralelo, seguiu mantendo sua atividade partidária e a atuação nos movimentos de bairro da cidade.
Em 1995, Eliezer teve o primeiro contato com informações sobre as consequências e sequelas de saúde causadas pelo contato com o amianto e, no mesmo período, participou de reuniões de trabalhadores expostos que começavam a se organizar para lutar pelos seus direitos na justiça e a cobrar a responsabilidade das empresas que lhes negaram informações corretas e condições de trabalho adequadas e seguras. É nesse período que conheceu, ainda em fase de articulação, a ABREA – Associação Brasileira dos Expostos pelo Amianto.
Passados três anos de envolvimento com o tema dos direitos dos trabalhadores expostos ao amianto e com a ABREA já ativa, Eliezer foi convidado em 1998 para ser presidente da associação, sendo eleito pelos associados para dirigir a entidade.
Já a frente da presidência da ABREA no ano 2000, a cidade de Osasco, onde esteve instalada por 56 anos a maior fábrica da Eternit de telhas e caixas d'água da América Latina, sedia e recebe o ‘Congresso Mundial do Amianto’, evento que é considerado um marco na luta pelo banimento do amianto no Brasil e no mundo. O Congresso teve a participação de dezenas de delegações estrangeiras – mais precisamente 35 países - e serviu para sensibilizar a sociedade sobre a necessidade de proibir o uso dessa maléfica e perigosa fibra, assim como deu força para novas legislações serem aprovadas em diversos países.
Segundo um dos maiores especialistas do mundo, autor de diversos estudos e livros sobre o asbesto / amianto o Dr. Barry Castleman:
“A reunião de Osasco em 2000 foi o primeiro encontro global de ativistas do amianto. A conferência do Brasil logo foi seguida por proibições no Chile e na Argentina. O evento de Osasco foi seguido por outros em Buenos Aires (2001), Atenas (2002), Ottawa (2003), Tóquio (2004), Bangkok (2006), Seul e São Paulo (2008), Hong Kong (2009), entre outros.”
Concordando sobre a importância da realização do congresso mundial em Osasco a engenheira civil e de segurança do trabalho, cofundadora da ABREA Fernanda Giannasi, afirmou que:
“O Congresso de 2000 foi um divisor de águas para o movimento social de proibição global do amianto. Embora já houvesse associações regionais ou nacionais, após este incrível evento houve uma coalizão destes movimentos em nível mundial, que cresceu em vibração e eficácia ano a ano, cada vez mais colaborativo e solidário.”
A mobilização em torno do Congresso Mundial sediado pela ABREA em Osasco, a ampliação do debate sobre o tema do asbesto nos meios de comunicação, a atuação do movimento sindical, de profissionais da saúde e a conscientização da população sobre o assunto fez com que diversas denúncias sobre o uso indevido do amianto aparecessem forçando medidas da justiça. Novas leis restritivas em âmbito municipal e estadual começaram a vigorar no país.
Após seguidas tentativas para derrubarem leis estaduais e municipais, e depois de uma longa batalha no Supremo Tribunal Federal, em 2017 foram consideradas constitucionais as leis de proteção de trabalhadores e populações contra o amianto, processo que contou com intensa participação da ABREA que envolveu especialistas de saúde, sindicatos, assembleias legislativas, além da argumentação junto ao STF pela necessidade de validar as leis de proteção em todos os níveis.
Eliezer João de Souza nasceu no interior do Brasil marcado pela pobreza e pela desigualdade que ao longo da história determinou o destino de milhões de brasileiros e brasileiras. Fez da sua luta por sobrevivência a mesma luta por direitos sociais para os trabalhadores e por democracia, todas conjugadas com a mesma sintonia e força. Deu assim sua importante contribuição como cidadão brasileiro para melhorar as condições de vida em nosso país, o tornando mais justo e menos desigual.
Hoje, com dois filhos, família e uma longa história de vida para contar e se orgulhar Eliezer afirmou em recente entrevista que:
“se pudesse, faria da minha vida tudo igual de novo e seguiria dormindo com a minha cabeça tranquila no travesseiro sabendo que fui correto e leal com meus companheiros de jornada. E sempre que posso eu lembro para as pessoas que entrei para a vida política para trabalhar para o coletivo, para a sociedade e não para mim.”
Faz questão de lembrar, como uma lição de vida, de um diálogo que presenciou de outro importante trabalhador metalúrgico e líder sindical da nossa história Waldemar Rossi, também da pastoral operária como Eliezer. Durante um encontro de leigos da igreja católica um conservador chegou para Rossi provocativamente:
- Oh Waldemar quando foi preso você rezava?
Rossi respondeu: - Eu rezava, inclusive, eu rezava bastante.
- E qual oração você mais fez na cadeia?
- Eu agradecia a Deus todo dia por nunca ter traído nenhum companheiro. Respondeu novamente silenciando seu arguidor.
Por toda sua história, pelo compromisso de vida que teve com os direitos e com a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, por ter feito de sua trajetória uma jornada de luta em defesa da democracia entendemos essa homenagem à Eliezer João de Souza, como um reconhecimento público por sua contribuição por um Brasil melhor. entrei para a vida política para trabalhar para o coletivo, para a sociedade e não para mim.”
Faz questão de lembrar, como uma lição de vida, de um diálogo que presenciou de outro importante trabalhador metalúrgico e líder sindical da nossa história, Waldemar Rossi, também da pastoral operária como Eliezer. Durante um encontro de leigos da igreja católica um conservador chegou para Rossi provocativamente:
- Oh Waldemar quando foi preso você rezava?
- Rossi respondeu: - Eu rezava, inclusive, eu rezava bastante.
- E qual oração você mais fez na cadeia?
- Eu agradecia a Deus todo dia por nunca ter traído nenhum companheiro, Respondeu novamente silenciando seu arguidor.
Por toda sua história, pelo compromisso de vida que teve com os direitos e com a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, por ter feito de sua trajetória uma jornada de luta em defesa da democracia entendemos essa homenagem à Eliezer João de Souza, como um reconhecimento público por sua contribuição por um Brasil melhor.
Diretoria da Abrea