30 ANOS
janeiro 2
O embrião do que seria a ABREA com reuniões clandestinas dos metalúrgicos da fábrica da Thermoid em São Paulo na casa de trabalhadores.
Quando olhamos para trás nos damos conta de que 30 anos se passaram desde quando nos encaminharam dois ex-empregados da fábrica da ETERNIT de Osasco com suspeita de que suas queixas de saúde, principalmente falta de ar, provinham do trabalho com o amianto realizado duas até mais décadas anteriores. Este alerta propiciou que iniciássemos a busca ativa de outros ex-empregados da planta de fibrocimento de Osasco, a maior do então grupo multinacional suíço na América Latina.
Tudo isto coincidiu com a demolição da fábrica em maio de 1995 para construção do hipermercado WALMART e o SAM’s Club, atualmente pertencentes ao grupo francês Carrefour. Por conta de inúmeras irregularidades praticadas durante a demolição, o Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco nos acionaram no Ministério do Trabalho e a obra foi embargada para regularização das inconformidades apresentadas.
Desde nossa experiência anterior, entre 1992 e 1993, com organizações de base clandestinas de fábricas, em especial os empregados da empresa Thermoid, havia uma sinalização clara para a necessidade de uma entidade que representasse os expostos ao amianto em todas as esferas públicas e privadas, já que à época não se podia contar com o apoio da maioria dos sindicatos classistas.
Portanto, em 9 dezembro de 1995 se efetivou oficialmente a fundação da primeira associação de expostos ao amianto – ABREA, que foi, posteriormente, reproduzida em outras localidades, tais como Rio de Janeiro, Bahia (Simões Filho e Bom Jesus da Serra e região), Paraná (Curitiba e Londrina), Pernambuco e Rio Grande do Sul. Em outros estados do país, tentou-se organizar estas associações, mas infelizmente algumas dificuldades ocorreram, que desviaram do foco e dos objetivos principais, a saber, o banimento do amianto e justiça para as vítimas. A partir daí, inúmeras ações foram promovidas pela ABREA como o Congresso Mundial do Amianto (GAC), em Osasco, no ano de 2000, que deu início a uma rede mundial na luta pelo banimento do amianto e à primeira lei municipal efetiva de proibição da fibra cancerígena, que foi acompanhada em diversos outros municípios e estados da federação.
A matéria de capa da revista Época, da brilhante e premiada jornalista Eliane Brum, em 2001, colocou a ABREA num novo patamar, passando a ser conhecida nacionalmente, que foi um verdadeiro divisor de águas. A partir daí, a atuação da ABREA se fortaleceu, passando a participar de vários fóruns e ser reconhecida, inclusive internacionalmente, com suas bem-sucedidas ações na organização das vítimas e familiares, na busca para diagnóstico e tratamento dos acometidos de doenças relacionadas ao amianto, nos debates nas assembleias legislativas, câmaras municipais e federal. Onde se discutia o amianto, lá estava a ABREA!
Outras iniciativas ocorreram como atividades aos domingos e feriados nos parques municipais com a campanha “Amianto Mata”, voltada à população e consumidores em geral, para comunicação dos riscos associados aos produtos contendo este mineral, na produção de materiais didáticos, na organização de seminários e eventos nacionais e internacionais sobre o tema, discutindo políticas de preservação ambiental, de recuperação de áreas degradadas pela mineração e remoção segura de artefatos contendo o cancerígeno amianto.
Um dos momentos marcantes da ação da ABREA ocorreu em 2017 com a decisão histórica e de grande repercussão nacional e internacional que foi o banimento do amianto aprovado pelo STF-Supremo Tribunal Federal. Apesar dos esforços empreendidos, muitas dificuldades surgiram nesta trajetória dos 30 anos no enfrentamento com um dos lobbies mais agressivos e organizados comandados pelo setor empresarial do amianto e seus tentáculos em vários segmentos, tais como universidades públicas, poder judiciário, imprensa, sindicatos de trabalhadores, entre outros. Eles incansavelmente buscaram todos os meios de intimidação, desmoralização e a criminalização dos ativistas antiamianto.
Mas a ABREA resistiu brava e obstinadamente e continuou sua trajetória de lutas sem jamais perder o foco e os compromissos assumidos nestes 30 anos junto aos seus representados e apoiadores, mantendo permanentemente sua coerência e determinação.